domingo, abril 08, 2012
João Gobern
A propósito da sua dispensa da RTP, e para quem não tem Facebook (o link é este), aqui fica o magnífico texto do João Gobern, em que demonstra que um homem vertical e honesto infelizmente não tem lugar na televisão de um país de m**** como este, em que hipócritas e gente sem-vergonha, que corrompe e se refugia em procedimentos jurídicos para ser absolvido (que é completamente diferente de ser inocente), é que tem direito a tempo de antena e é elogiada.
Meus amigos:
Gostava que me dessem a oportunidade de me referir aos acontecimentos desta semana. Tentarei que seja a última vez até porque, doravante, o assunto só serve para cansar e desgastar. Lá vai…
1. Não me peçam, nem agora nem nunca, que não festeje um golo do Benfica. Faço-o há muitos anos, desde que me reconheço como gente. Já me aconteceu ter que o fazer em campos tidos como adversos – as antigas Antas, o antigo Alvalade. Não festejo contra ninguém, nem me pinto de raiva ou de provocação. Gosto muito do meu clube. Tenho esse direito.
2. Festejei o golo no enquadramento errado. Se não tivesse consciência plena desse deslize, não tinha posto o meu lugar no “Zona Mista” à disposição ainda antes de as campanhas orquestradas chegarem ao seu destino. Ou seja, tenho consciência de que errei. Saber se existiu proporcionalidade entre o meu lapso e a posterior sentença, isso é outra conversa. Tenho a minha opinião (por mais que isso custe aos que viram nessa minha mania uma coisa qualquer chamada “falta de isenção”) mas, com vossa licença, opto por guardá-la.
3. Desafio um adepto de qualquer clube a manter-se quieto depois fechado num estúdio – já a comentar as incidências de um jogo mas sem poder perder as jogadas-chave de outra partida, que terá que comentar de seguida e que se reveste de muito maior importância – diante de um encontro que decide a continuidade nas corridas ao título, emotivo como aquele foi, decidido no último quarto de hora, e com um golo favorável no tempo de compensação. Foi infeliz o gesto? Sim. Foi desajustado? Sim. Foi tudo um grande azar? Quero continuar a pensar que sim. Mas não posso sequer garantir, para ser sincero, que não voltaria a fazer-me o mesmo, de uma forma espontânea e não premeditada. Por maioria de razão, não foi – insisto – uma provocação a ninguém, muito menos aos adeptos do Sporting de Braga.
4. Quanto à minha “atitude continuada” no programa, digo apenas isto: nunca me limitei nas minhas críticas pelo facto de ser adepto do Benfica. Julgo, inclusivamente, que o condicionamento funcionou ao contrário, obrigando-me a ser mais exigente com o meu clube do que com os outros. Nunca ofendi nenhuma instituição, nunca mencionei sequer a vida privada de dirigentes, técnicos ou jogadores – as críticas foram sempre dirigidas a comportamentos públicos e relacionados com o futebol.
5. Apesar de poder ter ofendido – involuntariamente – alguns telespectadores com o meu gesto, acabei por ser agradavelmente surpreendido com a quantidade de mensagens de apoio que recebi de sportinguistas e portistas, bem como de alguns adeptos do Braga. Agradeço o gesto, que me deixa mais descansado quanto ao meu desempenho no programa. De caminho, e sem querer entrar em discussões académicas, quero deixar bem claro que não acredito na “isenção” ou na “imparcialidade”. Respeito, evidentemente, todos os meus parceiros de ofício que optam por não revelar as suas preferências clubísticas. Eu escolhi outro camnho mas, dentro daquele estúdio de tantos sábados, a única camisola que vesti foi a da RTP. E, se quiserem, a de um combate por um futebol melhor e mais autêntico.
6. Tenho que agradecer aos benfiquistas o apoio demonstrado. Algumas mensagens foram verdadeiramente comoventes, outras muito estimulantes. E, de alguma forma, acaba por ser significativo o facto de elas não virem de gente com responsabilidades directivas, mas das bases, dos adeptos, dos meus pares. Não esquecerei o aconchego, nesta hora complicada de viver.
7. Agradeço aos meus amigos, a todos os que não conheço, a alguns com quem não falo há mais de vinte anos, à minha família (que se afligiu e a quem recordo que aquilo que não nos mata torna-nos mais fortes), a camaradas de profissão que julgava perdidos no tempo, a jornalistas que mal conheço, a figuras públicas cuja atitude não precisa de ser aqui publicitada, até velhos companheiros destas e outras lides (pelo incómodo que isso lhes possa ter causado não devo deixar de referir o Pedro Ribeiro, o Paulino Coelho, o José Mariño, o Jorge Alexandre Lopes, o Manuel Queiroz, o João Querido Manha, o Nuno Dias, o Leonardo Ralha, o José Carlos Soares, o João Carlos Silva, o Miguel Carvalho, o Rui Baptista, a Maria João Fialho Gouveia, o Luís Miguel Pereira, o José Zambujal, a Lurdes Feio, o José Paulo Fafe, a Raquel Morão Lopes, o Paulo Marcelino – obrigado a todos e mais aqueles de que possa estar a esquecer-me.
8. Ironizando, quase apetece dizer que valeu a pena tudo isto só para ser nomeado numa coluna do José Ferreira Fernandes, a quem fico devedor de mais esta atenção. Como de costume, ele viu o pormenor que escapa aos outros. Como é seu hábito, partiu do ponto para chegar ao todo. Soube-me especialmente bem o propósito guerreiro da Helena Sacadura Cabral e da Maria João Duarte. O meu parceiro, Pedro Rolo Duarte, esse nunca falha. Permitam-me, ainda assim, que saliente uma mensagem simples, “um abraço” só, de um homem com quem nunca falei pessoalmente mas que, se dúvidas houvesse (e eu já não as tinha), se confirmou como aquilo a que os meus avós chamariam “um cara direita” – Nuno Gomes, o (antigo) capitão do Benfica, hoje profissional de mão cheia do Braga.
9. Nesta espécie de despedida, antes de voltar à “vida real”, faço questão de agradecer a dois homens que, pela entrega, pelo profissionalismo, pela boa disposição e por um quase infinita capacidade de trabalho, caminham para o lugar dos eleitos num mister que não é para todos – o Hugo Gilberto e o Manuel Fernandes Silva. Não há melhor. Quanto ao Bruno Prata, quero afiançar-lhe que, escaramuças à arte, guerrilhas postas de lado, mantenho o que disse na primeira emissão do “Zona Mista”: aprendi com ele. Futebol mas, mais do que isso, lealdade e disponibilidade. Já que não nos deixam ser adversários, lá teremos que ser amigos.
10. Tendo reconhecido o erro, tendo lamentado o sucedido, há uma pessoa que me obriga a ir mais longe. Por ter apostado em mim quando nada o obrigava, por me ter brindado com este desafio e porque o capítulo final é tão murcho, resta-me pedir desculpas ao meu amigo Carlos Daniel. Garantindo-lhe que há casos em que a memória funciona mesmo.
11. Aos que escolheram o insulto, a insinuação, a mentira, a queixinha – já conseguiram o que queriam. Agora, por favor, vão marrar para outro lado, que eu, felizmente, tenho mais que fazer.
12. Gostaria, se me permitem esse desejo, que fossem desactivados os grupos de apoio e as petições em que eu esteja envolvido, mesmo indirectamente. Esta terra tem problemas sérios demais para que se gaste tanta energia, tanta disponibilidade e tanto tempo com questões que são verdadeiramente acessórias.
13. Num país onde os lapsos andam à solta, onde se mente impunemente, onde se rouba sem consequências, onde se abusa dos mais fracos, onde se lançam cortinas de fumo para que as pessoas se esqueçam dos seus problemas, posso dizer que, ao menos no meu caso, a culpa não morre solteira. Azar meu: foi justamente agora que ela, a culpa, decidiu casar-se e ser monogâmica.
14. Obrigado, ainda uma vez. Até um dia destes. Boa Páscoa. Espero as amêndoas só na segunda-feira.
João Gobern
Meus amigos:
Gostava que me dessem a oportunidade de me referir aos acontecimentos desta semana. Tentarei que seja a última vez até porque, doravante, o assunto só serve para cansar e desgastar. Lá vai…
1. Não me peçam, nem agora nem nunca, que não festeje um golo do Benfica. Faço-o há muitos anos, desde que me reconheço como gente. Já me aconteceu ter que o fazer em campos tidos como adversos – as antigas Antas, o antigo Alvalade. Não festejo contra ninguém, nem me pinto de raiva ou de provocação. Gosto muito do meu clube. Tenho esse direito.
2. Festejei o golo no enquadramento errado. Se não tivesse consciência plena desse deslize, não tinha posto o meu lugar no “Zona Mista” à disposição ainda antes de as campanhas orquestradas chegarem ao seu destino. Ou seja, tenho consciência de que errei. Saber se existiu proporcionalidade entre o meu lapso e a posterior sentença, isso é outra conversa. Tenho a minha opinião (por mais que isso custe aos que viram nessa minha mania uma coisa qualquer chamada “falta de isenção”) mas, com vossa licença, opto por guardá-la.
3. Desafio um adepto de qualquer clube a manter-se quieto depois fechado num estúdio – já a comentar as incidências de um jogo mas sem poder perder as jogadas-chave de outra partida, que terá que comentar de seguida e que se reveste de muito maior importância – diante de um encontro que decide a continuidade nas corridas ao título, emotivo como aquele foi, decidido no último quarto de hora, e com um golo favorável no tempo de compensação. Foi infeliz o gesto? Sim. Foi desajustado? Sim. Foi tudo um grande azar? Quero continuar a pensar que sim. Mas não posso sequer garantir, para ser sincero, que não voltaria a fazer-me o mesmo, de uma forma espontânea e não premeditada. Por maioria de razão, não foi – insisto – uma provocação a ninguém, muito menos aos adeptos do Sporting de Braga.
4. Quanto à minha “atitude continuada” no programa, digo apenas isto: nunca me limitei nas minhas críticas pelo facto de ser adepto do Benfica. Julgo, inclusivamente, que o condicionamento funcionou ao contrário, obrigando-me a ser mais exigente com o meu clube do que com os outros. Nunca ofendi nenhuma instituição, nunca mencionei sequer a vida privada de dirigentes, técnicos ou jogadores – as críticas foram sempre dirigidas a comportamentos públicos e relacionados com o futebol.
5. Apesar de poder ter ofendido – involuntariamente – alguns telespectadores com o meu gesto, acabei por ser agradavelmente surpreendido com a quantidade de mensagens de apoio que recebi de sportinguistas e portistas, bem como de alguns adeptos do Braga. Agradeço o gesto, que me deixa mais descansado quanto ao meu desempenho no programa. De caminho, e sem querer entrar em discussões académicas, quero deixar bem claro que não acredito na “isenção” ou na “imparcialidade”. Respeito, evidentemente, todos os meus parceiros de ofício que optam por não revelar as suas preferências clubísticas. Eu escolhi outro camnho mas, dentro daquele estúdio de tantos sábados, a única camisola que vesti foi a da RTP. E, se quiserem, a de um combate por um futebol melhor e mais autêntico.
6. Tenho que agradecer aos benfiquistas o apoio demonstrado. Algumas mensagens foram verdadeiramente comoventes, outras muito estimulantes. E, de alguma forma, acaba por ser significativo o facto de elas não virem de gente com responsabilidades directivas, mas das bases, dos adeptos, dos meus pares. Não esquecerei o aconchego, nesta hora complicada de viver.
7. Agradeço aos meus amigos, a todos os que não conheço, a alguns com quem não falo há mais de vinte anos, à minha família (que se afligiu e a quem recordo que aquilo que não nos mata torna-nos mais fortes), a camaradas de profissão que julgava perdidos no tempo, a jornalistas que mal conheço, a figuras públicas cuja atitude não precisa de ser aqui publicitada, até velhos companheiros destas e outras lides (pelo incómodo que isso lhes possa ter causado não devo deixar de referir o Pedro Ribeiro, o Paulino Coelho, o José Mariño, o Jorge Alexandre Lopes, o Manuel Queiroz, o João Querido Manha, o Nuno Dias, o Leonardo Ralha, o José Carlos Soares, o João Carlos Silva, o Miguel Carvalho, o Rui Baptista, a Maria João Fialho Gouveia, o Luís Miguel Pereira, o José Zambujal, a Lurdes Feio, o José Paulo Fafe, a Raquel Morão Lopes, o Paulo Marcelino – obrigado a todos e mais aqueles de que possa estar a esquecer-me.
8. Ironizando, quase apetece dizer que valeu a pena tudo isto só para ser nomeado numa coluna do José Ferreira Fernandes, a quem fico devedor de mais esta atenção. Como de costume, ele viu o pormenor que escapa aos outros. Como é seu hábito, partiu do ponto para chegar ao todo. Soube-me especialmente bem o propósito guerreiro da Helena Sacadura Cabral e da Maria João Duarte. O meu parceiro, Pedro Rolo Duarte, esse nunca falha. Permitam-me, ainda assim, que saliente uma mensagem simples, “um abraço” só, de um homem com quem nunca falei pessoalmente mas que, se dúvidas houvesse (e eu já não as tinha), se confirmou como aquilo a que os meus avós chamariam “um cara direita” – Nuno Gomes, o (antigo) capitão do Benfica, hoje profissional de mão cheia do Braga.
9. Nesta espécie de despedida, antes de voltar à “vida real”, faço questão de agradecer a dois homens que, pela entrega, pelo profissionalismo, pela boa disposição e por um quase infinita capacidade de trabalho, caminham para o lugar dos eleitos num mister que não é para todos – o Hugo Gilberto e o Manuel Fernandes Silva. Não há melhor. Quanto ao Bruno Prata, quero afiançar-lhe que, escaramuças à arte, guerrilhas postas de lado, mantenho o que disse na primeira emissão do “Zona Mista”: aprendi com ele. Futebol mas, mais do que isso, lealdade e disponibilidade. Já que não nos deixam ser adversários, lá teremos que ser amigos.
10. Tendo reconhecido o erro, tendo lamentado o sucedido, há uma pessoa que me obriga a ir mais longe. Por ter apostado em mim quando nada o obrigava, por me ter brindado com este desafio e porque o capítulo final é tão murcho, resta-me pedir desculpas ao meu amigo Carlos Daniel. Garantindo-lhe que há casos em que a memória funciona mesmo.
11. Aos que escolheram o insulto, a insinuação, a mentira, a queixinha – já conseguiram o que queriam. Agora, por favor, vão marrar para outro lado, que eu, felizmente, tenho mais que fazer.
12. Gostaria, se me permitem esse desejo, que fossem desactivados os grupos de apoio e as petições em que eu esteja envolvido, mesmo indirectamente. Esta terra tem problemas sérios demais para que se gaste tanta energia, tanta disponibilidade e tanto tempo com questões que são verdadeiramente acessórias.
13. Num país onde os lapsos andam à solta, onde se mente impunemente, onde se rouba sem consequências, onde se abusa dos mais fracos, onde se lançam cortinas de fumo para que as pessoas se esqueçam dos seus problemas, posso dizer que, ao menos no meu caso, a culpa não morre solteira. Azar meu: foi justamente agora que ela, a culpa, decidiu casar-se e ser monogâmica.
14. Obrigado, ainda uma vez. Até um dia destes. Boa Páscoa. Espero as amêndoas só na segunda-feira.
João Gobern
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1 comentário:
Pois Gobern já era e não há nada a fazer, pelos visto vai para o seu lugar um funil dos zeros cegos. Enfim.
Para se ver o quanto grande este clube é!
Partilhem, comentem, corrijam...
http://aminhachama.blogspot.pt/2012/04/equipas-gloriosas-seculo-xx.html
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