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sexta-feira, outubro 08, 2021

Eleições no Benfica – um ano depois...

Here we go again... Na verdade, é menos de um ano depois que voltamos às urnas para eleger o novo presidente do Benfica e ontem houve um debate na BTV com os dois candidatos, Rui Costa e Francisco Benitez. Portanto, mais do que se justifica este post que, aviso já, vai ser longo (as minhas desculpas!), mas há várias coisas que têm de ser ditas:
 
1) Se vai haver eleições agora, é porque o 7 de Julho de 2021 foi o dia mais VERGONHOSO da história do Benfica. Sim, a bold, maiúsculas e sublinhado. Não há outra maneira de o dizer. Infelizmente. O dia em que um presidente em funções do Sport Lisboa e Benfica é preso é, a milhas de distância, o pior dia da história do clube. Ainda por cima, com a acusação de ter roubado o próprio clube! Mesmo que ele seja absolvido quando o processo terminar (e vai durar vários anos), desta vergonha já ninguém nos livra. A honra do clube terá esta nódoa para sempre. E isso é imperdoável.
 
2) Espero sinceramente que o Luís Filipe Vieira seja absolvido por todas as razões que se imaginam. Porque, apesar de ter sido uma pessoa fundamental no clube a determinada altura e a quem devemos muito, uma eventual condenação fará tudo isso implodir, passar para um plano secundário, e torná-lo-á pior do que o Vale e Azevedo. Sim, pior, porque, para além de ter deixado o clube envolvido numa série de outros processos, também o terá roubado. Mas, principalmente, espero que ele seja absolvido por causa do próprio Sport Lisboa e Benfica, para que o clube saia o menos chamuscado possível disto tudo.
 
3) Dito isto, parece-me urgente tomarmos medidas para que uma situação destas não volte a acontecer. E a principal, para mim, é a limitação de mandatos. Fico bastante contente por ver que os dois candidatos estão de acordo quanto a isto. Três mandatos (12 anos), tal como nas autarquias, é tempo mais do que suficiente para se deixar obra e para que um líder se rodeie de pessoas competentes e idóneas, que o poderão eventualmente substituir e continuar essa obra. Porque ninguém é insubstituível e confundir-se o clube com uma pessoa é algo de inimaginável no Benfica. Além de que, quanto mais tempo uma pessoa está no poder, mais vícios cria e deixa criar à sua volta, mais compadrios e esquemas se potenciam, e isso, como se pode ver, deu o resultado que deu...
 
4) Outra medida que é urgente é deixarmo-nos de utopias e percebermos que a direcção do clube e, em especial o seu presidente, TEM DE ser remunerado. Já não estamos em tempos de romantismos ou de carolice. Gerir um monstro como o Sport Lisboa e Benfica não pode ser um part-time, algo que se só faça a partir das 18h. Caso contrário, só pessoas ricas é que terão disponibilidade para serem presidentes do Benfica e ficarem quatro anos sem receber salário. Porque, se não forem ricas, a não-remuneração também potencia a que se vá buscar rendimentos a outros lados. Como em comissões de transferências de jogadores ou outros negócios menos claros. O presidente ganhar o mesmo que o jogador de futebol mais mal pago do plantel pode ser um compromisso interessante.
 
4) Estas eleições tiveram o mérito de trazer de volta os debates democráticos ao nosso clube 21 anos depois! É muitíssimo tempo e a culpa também é nossa, dos sócios, que deixámos que se normalizasse uma anormalidade destas. Como se viu ontem, é possível discutir-se ideias sem insultos, nem berrarias. Quem forçou isto a voltar a acontecer (lista B) e quem aceitou que voltasse (lista A) estão ambos de parabéns.
 
5) Alguém que caísse de Marte ontem e visse o debate, não teria dúvidas em votar em Rui Costa, que se mostrou muitíssimo mais bem preparado do que Francisco Benitez. O que é natural, porque já está há 13 anos como dirigente. Mas esse também é o seu grande problema. É tempo demais de ligação a Luís Filipe Vieira e, como disse o Ricardo Araújo Pereira, o melhor que podemos pensar de Rui Costa é que foi “totó” e não reparou no que aparentemente acontecia à sua volta. Porque, senão, foi cúmplice ou conivente. E aí já seria um caso de polícia. E é precisamente por causa desse passado que eu não posso votar em Rui Costa agora. Sou absolutamente insuspeito para dizer isto, porque sempre foi dos jogadores que eu mais admirei, um enorme ídolo, é dele uma das duas únicas camisolas do Benfica com o nome de jogadores que tenho (a outra, obviamente, do grande Nuno Gomes; também deveria ter do Cardozo, mas distraí-me...) e, se fosse hoje, escreveria isto outra vez sem pestanejar. Mas votar nele, neste momento, não consigo. Terá de dar mostras no futuro que foi, de facto, “totó” e afastar-se do modus faciendi que imperou no clube nos últimos 18 anos (o regresso da visibilidade das eleições nos órgãos de comunicação do clube e os debates eleitorais são um óptimo princípio). Cumprindo satisfatoriamente esse período de nojo, daqui a quatro anos poderei pensar nisso.
 
6) Francisco Benitez tem o mérito de se ter candidatado quando mais ninguém o fez, mesmo sabendo que irá perder, permitindo assim que houvesse confronto de ideias. E isto não é de todo uma questão de somenos importância. No entanto, no debate de ontem perdeu de goleada. Era um combate desigual (alguém que foi um ídolo em campo versus outro que era desconhecido), louve-se-lhe a coragem, mas cometeu alguns erros graves: era o Rui Costa do outro lado, chamar sempre “o candidato da lista A” ficou-lhe muito mal; a rábula de procurar o papel certo sobre determinado assunto e não ter decorado nem a intervenção inicial, nem principalmente a final (em que era suposto estar a olhar directamente para a câmara, para os olhos dos benfiquistas, e não para baixo), foi confrangedor; a ideia de que se poderia ter retido um jogador por quem ofereceram 120 M€ é de um desconhecimento do mundo do futebol actual dificilmente aceitável; e o ter dito a Rui Costa que ele poderia ter voltado mais cedo como jogador permitiu que o Rui Costa lhe desse a estocada final, porque sentiu isso como uma acusação muito injusta quando ele não podia ter feito nada na época (esteve sempre sob contrato quer da Fiorentina, quer do Milan). Por todas estas razões e, consequentemente, pela impreparação que revelou para o cargo (levou outro banho na questão das pessoas para a SAD, que defendeu que tinham todas de perceber de futebol, quando é óbvio que também é preciso gestores), também não irei votar nele.
 
7) Resta o voto em branco, que é o que irei fazer. Devo dizer que fiquei bastante desiludido com a não-candidatura do Noronha Lopes, em quem votei na eleição anterior. Aí, sim, teríamos uma competição a sério, porque é muitíssimo melhor candidato que o Benitez. Aparentemente, as circunstâncias na sua vida mudaram em relação há um ano, mas então ele deveria ter dito logo em Julho, na entrevista à TVI, que não se recandidataria. No entanto, deixou isso em aberto, dando esperança a pessoas como eu. Até pode ser que não ir a jogo agora seja a atitude mais racional, mas, entre a racionalidade e o benfiquismo, eu tombo sempre para o benfiquismo. Por outro lado, nessa entrevista em Julho defendeu que as eleições deveriam ser marcadas o mais rapidamente possível e depois, quando foram marcadas, disse que eram cedo demais. Incongruências que não se percebem. A bomba atómica caiu em Julho, soube-se logo que haveria eleições, estamos agora em Outubro, passaram-se três meses e eu esperaria outro tipo de organização por parte da oposição. Infelizmente, não houve.
 
8) A mensagem final mais importante é a do costume nestes casos: vão votar! Na lista A, na lista B ou em branco, é muito importante que façamos ouvir a nossa voz. E, não, o voto em branco não é um voto desperdiçado. Imaginem só que haveria 20% de votos em branco. Acham que isso não iria dar um sinal claro ao vencedor das eleições? Pois...! Não se abstenham! VOTEM! VIVA O BENFICA!

1 comentário:

MP disse...

A honra do clube não fica manchada por ter tido um presidente que o roubou. O ladrão é que tem a culpa, não quem é roubado. Já os ingénuos que votaram em LFV quando era ÓBVIO o que ele é...