Por respeito a quem tem a pachorra de me ler e em nome da transparência, aqui vai o que eu tenho a dizer sobre as eleições para os órgãos sociais do Sport Lisboa e Benfica, que decorrerão amanhã. Peço antecipadamente desculpa por o texto ser longo, mas a ocasião é muito importante. Quem só quiser saber o final, está três parágrafos abaixo.
Em primeiro lugar, quero deixar bem explícito que o actual presidente, Luís Filipe Vieira, já tem o seu nome gravado na história do nosso clube. E não é de agora, é de há muito tempo. Portanto, qualquer que seja o resultado de amanhã, isso não sairá minimamente beliscado. Novo estádio + Seixal + recuperação financeira + tetracampeonato são razões mais do que suficientes para que ele seja um dos mais importantes presidentes da história do Sport Lisboa e Benfica.
Em segundo lugar, quero tornar bem claro que, das cinco eleições em que ele se candidatou até agora, votei nele em quatro delas e abstive-me em 2009, por causa disto (foi uma questão formal, mas não pude de todo ser conivente com aquele tipo de procedimentos).
Em terceiro lugar, quero dizer que desta vez os meus 50 votos vão para João Noronha Lopes. E passarei a explicar porquê, começando pelas razões por que não voto em Luís Filipe Vieira.
1) As eleições servem para avaliar o trabalho que foi feito desde o último acto eleitoral e as propostas para o futuro. Não servem para demonstrações de gratidão, nem para avaliar a obra dos últimos 17 anos. E, nestes últimos quatro anos, este mandato poderia ter sido bastante melhor. Fomos duas vezes campeões, mas falhámos um penta, por falta de investimento na equipa, e ainda estou à espera que me expliquem o que se passou na temporada passada, em que desbaratámos uma vantagem de sete(!) pontos na 2ª jornada da 2ª volta. Não houve até agora nenhuma palavra a explicar este descalabro, que culminou com aquela vergonha na final da Taça.
2) Não se pode criticar em Setembro do ano passado a hipotética vinda de “um demagogo qualquer que o que queria era investir para ter uma superequipa, mas se não resultasse aquilo caía num instante” e não se pode ter o CEO da SAD do clube a anunciar uma redução do investimento em finais de Junho passado, e depois gastar-se muito mais do que noutros anos. Como na época do penta, por exemplo. Eu prefiro que o presidente do Benfica invista para ganhar títulos e não para ganhar eleições. E, já agora, não se pode dizer que com ele determinado treinador jamais voltará ao clube e, passado apenas um ano, esse treinador estar de volta. Quem dá o dito por não dito tantas vezes, não se pode admirar que depois não se acredite nele. Pode mudar-se de opinião, mas não um ano depois. Ou, pior ainda, em apenas dois meses...
3) Eu continuo a crer que não ganhámos os títulos que ganhámos de forma desonesta. Nomeadamente, obtendo favores de árbitros, como outros fizeram no passado. Mas ter o nome do Benfica envolvido em tantos processos judiciais é algo que me custa imenso e me deixa uma enorme sensação de desconforto. Se fossem só um ou dois, ainda aceitaria, mas infelizmente são muitos mais do que isso.
4) Dezassete anos é muito tempo. Tempo demais. Seja para o Luís Filipe Vieira, seja para outra pessoa qualquer. Eu não quero que o meu clube seja igual a outros em termos de longevidade de pessoas no poder. Porque isso inevitavelmente cria vícios e tende a confundir-se o clube e a pessoa. E obviamente o Sport Lisboa e Benfica tem de estar sempre acima das pessoas que o representam. Por alguma razão existe limitação de mandatos para as Autarquias e a Presidência da República. No Benfica, devia ser igual.
5) Há um erro que o nosso presidente comete (que é, aliás, apanágio de pessoas que estão em cargos de poder) e que é, a meu ver, grave: confundir críticas a si com críticas ao clube. Não, não é de todo a mesma coisa! Porque isso faria com que nunca se pudesse criticar o presidente, logo ele teria carta branca para fazer o que quisesse. E as eleições eram escusadas, enquanto ele decidisse recandidatar-se. Imaginem que teria sido assim com o Vale e Azevedo. Só não seria ainda hoje presidente do Benfica, porque provavelmente já não existiria Benfica... E não é assim que a democracia funciona. Aliás, a democracia não é algo que nós defendamos só quando nos der jeito. Se for para chegar à presidência através de eleições, tudo bem, mas se for para debater com outros candidatos, sendo-se já presidente, aí já é “ruído”. Não, não se chama “ruído”, chama-se debate de ideias e é absolutamente fundamental num clube democrático. Só é “ruído” se os intervenientes assim o quiserem. Ainda neste ponto, os órgãos de comunicação do clube devem ser órgãos de comunicação... do clube! E não da direcção que está no poder. Seja ela qual for. Dito isto, é óbvio que esta campanha eleitoral deveria ter sido acompanhada quer pela Benfica TV, quer pelo jornal “O Benfica”. Deveria ter havido não só um debate entre todos os candidatos, como tempo de antena para as diferentes candidaturas nesses dois veículos de comunicação do clube. Chama-se democracia e, como disse o Churchill, “é o pior dos regimes, à excepção de todos os outros.” Não é negociável, nem é moldável. Ponto.
6) Um pequeno episódio que me marcou: quando o Luisão se tornou o jogador com mais títulos pelo Benfica (a seguir à Supertaça de 2017), houve um evento no relvado da Luz que passou na Benfica TV em que estavam o presidente, o Luisão e as outras glórias mais tituladas (Humberto Coelho, Shéu, Simões e mais um ou outro, que sinceramente não me lembro). Olhei para aqueles craques todos e comecei a pensar no que poderíamos conquistar com eles hoje. Comentário do presidente: “a fortuna que nós faríamos hoje com vocês todos, se ainda jogassem.” É apenas um pormenor, mas significativo para mim. Representa uma diferente maneira de pensar. Muito boa para um gestor de uma empresa. Mas não de um clube. Ninguém vai festejar relatórios & contas para o Marquês. Acho eu.
Em relação à outra candidatura, não voto em Rui Gomes da Silva, porque, jamais pondo em causa o seu benfiquismo, nunca votaria em alguém que andou anos a fio a dizer, em plena televisão, que nunca se candidataria contra Luís Filipe Vieira. Ou se tem palavra e se é coerente, ou não se tem e não se é. Além disso, não me esqueço da dificuldade que o Rui Gomes da Silva teve em lidar com a opinião contrária, quando foi ministro, tendo criticando tanto os comentários do Marcelo Rebelo de Sousa ao domingo na TVI, a ponto de este se ter demitido na sequência de pressões que sofreu do director do canal. Pessoas que lidem mal com o contraditório, não, obrigado!
Então, porquê votar em João Noronha Lopes?
1) Se é verdade que era para mim um total desconhecido até se apresentar a estas eleições, a sua candidatura nasceu no seio de um conjunto de pessoas que me merecem bastante credibilidade e que têm tomado posições públicas sobre o destino do nosso clube ao longo dos anos, nas quais me revejo em muitas delas. Algumas dessas pessoas são candidatas aos seus órgãos sociais na sua lista, o que contribui para reforçar bastante esta candidatura. Para além disso, o seu currículo profissional é irrepreensível e a sua experiência em gestão numa multinacional mais do que o qualifica para gerir um ‘monstro’ como o nosso clube.
2) Convenceu-me logo no discurso de anúncio de candidatura ao propor uma revisão estatutária que limite a duração dos mandatos (demonstrando que não se irá perpetuar no poder) e acabe com este absurdo de uma pessoa poder ser candidato a presidente da República mais cedo do que a presidente do Benfica. Outra questão essencial: segunda volta nas eleições quando um candidato não obtiver maioria absoluta. E uma última: as pedras e os edifícios não devem votar. As casas do Benfica são dirigidas e frequentadas por pessoas. Que já são sócias do Benfica. É outro absurdo as casas terem direito de voto também.
3) O seu programa eleitoral é suficientemente abrangente e beneficiou de vários contributos que foi tendo ao longo do seu périplo pelas casas do Benfica, e inclusive de outras candidaturas que entretanto desistiram. Isto demonstra uma abertura de espírito que é muito salutar, porque não são só as nossas ideias que são válidas. Para além disso, o facto de existir um programa eleitoral é algo que nos permitirá no futuro responsabilizá-lo, ao verificarmos o seu grau de cumprimento.
4) Logo na noite da derrota com o PAOK, veio dizer que não era altura para críticas (leia-se aproveitamento político/eleitoral de desaires), o que, juntamente com as entrevistas e declarações que tive oportunidade de ler e ver, demonstram uma postura que aprecio bastante. É uma lufada de ar fresco em relação a tudo o que temos visto no futebol português nos últimos tempos.
Dito isto, se o candidato em quem vou votar não ganhar, obviamente não esperem de mim que me torne oposição do vencedor. Eu sou do Benfica. Não sou da pessoa A ou B. Quem ganhar será o presidente do meu clube que irei elogiar ou criticar, consoante esteja ou não de acordo com as suas decisões. Tal como tenho feito sempre até agora.
Para terminar, apelo veemente a que vão votar amanhã. Seja em quem for. Porque o Benfica sairá tanto mais reforçado, quanto maior seja a afluência às urnas. Não deixem que outras vozes se façam ouvir no lugar das vossas. Votem!
VIVA O BENFICA!
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