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quinta-feira, junho 17, 2021

Sorte medrosa

Entrámos bem no Euro 2020, com uma vitória por 3-0 frente à Hungria em Budapeste anteontem. O futebol tem esta coisa maravilhosa de os resultados poderem ser enganadores. Quem olhe para este sem saber nada, pensa logo: “vitória fácil e esclarecedora”. Ora, com o primeiro golo a beneficiar do desvio de um defesa e acontecer a seis minutos do fim, a vitória foi tudo menos isso.
 
Com a França e Alemanha no grupo, as contas eram simples: ou ganhávamos este jogo, perante a selecção obviamente mais fraca, ou poderíamos começar a fazer as malas de regresso. Se até entrámos bem, com um remate do Diogo Jota defendido pelo guarda-redes (embora o nº 21 devesse ter assistido o Cristiano Ronaldo que estava sozinho...), só voltámos a ter a sensação de golo perto do intervalo, com o C. Ronaldo a falhar um desvio na pequena-área. Os húngaros fecharam-se a sete chaves na defesa e, quanto mais o tempo foi passando, mais evidente ficava que era preciso mais dinâmica no meio-campo e no ataque, mais velocidade, mais vontade de arriscar, caso contrário, não iríamos ganhar. Isso era visível para toda a gente, menos para o... Fernando Santos! E percebeu-se porquê na conferência de imprensa no final: disse o nosso seleccionador que a equipa estava “muito segura” e a “controlar bem” o ataque do adversário, e portanto não via necessidade de fazer substituições mais cedo. Lá está, com jogadores do calibre dos nossos, o Fernando Santos tem muita dificuldade em superar aquele futebolzinho me(r)d(r)oso (podem escolher o sítio mais apropriado dos parêntesis), que sempre caracterizou as suas equipas. E como ganhou um Europeu a jogar assim, deve achar que a história se repete e a receita é para manter. Só aos 71’(!) houve a primeira substituição, com a entrada do Rafa para o lugar do Bernardo Silva, mas foi aos 81’ quando entrou o Renato Sanches para o lugar do ‘verdadeiro’ lento William Carvalho, que finalmente começámos a ter dinâmica no meio-campo e alguém para levasse a equipa para a frente e não se limitasse a trocar a bola para o lado e para trás. Fomos para cima dos húngaros e o Rafa teve intervenção directa nos três golos: assistiu o Raphael Guerreiro para o tal remate desviado aos 84’ (sendo que a própria assistência também beneficiou de um desvio), sofreu o penalty aos 87’, que o C. Ronaldo concretizou, e assistiu o nº 7 já na compensação (92’) para o resultado final.
 
O C. Ronaldo foi o “homem do jogo”, como seria de esperar, mas o Rafa foi essencial por ter participado nos três golos. O Renato Sanches deveria caminhar a passos largos para ser titular, mas com o Fernando Santos nunca se sabe. Gostei do Danilo no meio-campo, mas o Diogo Jota e o Bernardo Silva estiveram muito abaixo do que podem fazer. A defesa esteve segura, embora o Nélson Semedo não seja tão acutilante em termos ofensivos como o João Cancelo (e, neste sentido, ficámos a perder por causa da covid-19 deste). Já a titularidade do William Carvalho, que já não tem grande velocidade e ainda por cima praticamente não jogou esta temporada no Bétis, é um mistério...
 
Como a França ganhou por 1-0 à Alemanha, os alemães irão ter um jogo decisivo contra nós no sábado. Não é preciso ser bruxo para adivinhar que o Portugal irá jogar para o empate contra eles. Quatro pontos devem ser suficientes para, pelo menos, assegurar um dos quatro terceiros lugares que darão a qualificação. E, para esse objectivo, também foi importante este 3-0, por causa da diferença de golos. Ou então, pode ser que a selecção me surpreenda e faça um jogão contra os alemães (que, diga-se de passagem, também não parecem ter uma selecção tão forte quanto as passadas)... Veremos (mas tenho zero esperança disso...).

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