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quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Vantagem mínima

Confesso que o jogo frente ao Dínamo de Bucareste me desiludiu bastante. Ganhámos por 1-0 com um golo do Miccoli no último minuto e estamos na frente da eliminatória, mas a nossa exibição deixou muito a desejar. Mostrámos pouca chama, muita confusão de ideias, equívocos tácticos e falta de condição física. Depois de uma série de jogos bem conseguidos, é incrível como é que uma derrota deita tão abaixo a equipa. E é também incrível como é que somente uma má exibição faz com que os adeptos deixem de ir em massa ao estádio. Pouco mais de 35.000 espectadores para um jogo de uma competição europeia é um número mau para nós (apesar de isto representar para outros o estádio praticamente cheio...). Infelizmente em Portugal, os adeptos só o são verdadeiramente nos bons momentos.

Entrámos com o mesmo onze que fez o jogão frente ao Boavista, mas cedo se percebeu que a dinâmica estava longe de ser a mesma. Durante a 1ª parte arriscámos muito pouco, parecendo que estávamos mais com medo de sofrer golos do que de marcá-los. Como o Dínamo de Bucareste também se recusou a atacar, o jogo foi bastante enfadonho. Criámos uma grande oportunidade aos 17’, mas o remate do Nuno Gomes na sequência de um bom centro do Simão foi bem defendido pelo guarda-redes. O meio-campo imprimia muito pouca velocidade na transição de bola, os jogadores da frente estavam muito marcados e tínhamos a péssima tendência de afunilar o jogo, pelo que raramente conseguimos chegar à baliza em condições de rematar.

Na segunda parte, entrou o Miccoli para o lugar do Petit (já com amarelo e vindo de lesão), mas não se notaram grandes melhorias, bem pelo contrário, durante os primeiros 15’. O Dínamo de Bucareste soltou-se mais e, com boas trocas de bola, conseguia chegar perto da nossa baliza, embora não criasse verdadeiras situações de golo. Depois deste quarto-de-hora inicial, voltámos a subir lentamente de produção e aos 69’ o Simão acertou pela primeira vez nesta época na baliza num livre directo, só que teve pontaria a mais e a bola foi à trave. Pouco depois entrou o Derlei para o lugar do Nuno Gomes, que está com um nível de confiança assustador (paradigmática aquela jogada em que, à entrada da área e em perfeitas condições de rematar, prefere passar a bola para o Léo que estava em fora-de-jogo). A 3’ do fim, o brasileiro teve um bom movimento de cabeça e a bola passou rente ao poste. Estávamos longe de mostrar o rolo-compressor como no jogo frente ao Boavista, mas mesmo assim já justificávamos a vantagem no marcador. Que acabou por surgir no último minuto, na sequência de um centro do maestro a que o Simão acorreu muito bem, proporcionando ao guarda-redes Lobont uma grande defesa por instinto para a frente, sobrando a bola para o Miccoli rematar contra o chão e finalmente metê-la na baliza. Foi o delírio e um grande suspiro de alívio no estádio da Luz. Até final, ainda deu para o Fernando Santos queimar tempo (!), colocando o João Coimbra no lugar do Rui Costa e para o Nélson preferir jogar para trás (!) quando estava em boa posição de centrar para a área (ninguém o avisou que a eliminatória não está ganha e ainda falta o 2º jogo?!).

Individualmente não houve nenhum jogador que se tenha destacado muito dos demais. O Simão não esteve tão bem como em jogos anteriores, a que não será alheio as constantes alterações tácticas que tem que fazer (começou na frente, ficou a “nº 10” na 2ª parte e raramente esteve nas alas, onde manifestamente rende mais). O Nélson fez um jogo bastante mau, mostrando não ter superado o trauma da Póvoa (o que é deveras preocupante, porque não tem substituto à altura no plantel). O Nuno Gomes continua a seco e ou sobe rapidamente de forma ou arrisca-se a sair da equipa. Os centrais acabaram por fazer um bom jogo, juntamente com o Léo, este especialmente na 2ª parte. Ao invés, os gregos não estiveram tão bem, parecendo o Katsouranis em nítida baixa física a partir de meio da 2ª parte e o Karagounis com uma tendência enervante para afunilar o jogo. O Miccoli também não entrou nada bem no jogo (pareceu perdido no ataque na maior parte do tempo), mas depois estava no sítio certo para marcar.


Mesmo assim, globalmente somos melhor equipa do que os romenos e temos obrigação de passar a eliminatória, mas é bom que estejamos preparados para sofrer em Bucareste. O jogo não vai ser nada fácil e devemos meter na cabeça que temos que marcar golos, caso contrário o cenário poderá tornar-se muito negro. É fundamental passar esta eliminatória, até porque eliminaremos uma equipa do país que é o grande adversário de Portugal no ranking da Uefa e daremos uma ajuda para manter a terceira equipa na pré-eliminatória da Liga dos Campeões daqui a dois épocas.

10 comentários:

L. disse...

mais um grande jogo do leo.

D'Arcy disse...

O Nélson na minha opinião não fez um jogo bastante mau. Antes pelo contrário, fez até um jogo bastante positivo nos aspectos defensivos, sobretudo na segunda parte em que praticamente não teve apoio do Karagounis e levou com dois adversários em cima diversas vezes. Agora tanto bateram no homem por algumas asneiras que ele fez (e a mínima asneira dele é logo empolada para proporções gigantescas) que o que me pareceu foi que ele entrou em campo apenas e só para se preocupar em defender. Não arriscou absolutamente nada, e praticamente não tentou um lance de um para um, preferindo lateralizar a bola. E assim perdemos um desequilibrador por aquele lado.

Anónimo disse...

Miséria Franciscana
Não tenho palavras para qualificar a exibição de ontem do Benfica. Mau demais para ser verdade, valeu o golo de Miccolli. Claro que iremos sofrer muito para passar a eliminatória, mas interrogo-me se o Benfica terá capacidade para estar em 2 frentes.
Acho que não, e o plantel é curto como se provou na Póvoa. Depois o facto de jogarmos sempre com 10 (Nuno Gomes é mais um central do adversário, como ontem se comprovou) e com um lateral direito que mais parece um jogador da equipa adversária, não ajuda mesmo nada.
Por outro lado, parece-me que a equipa está de rastos, fisica e animicamente. Para este estado de coisas muito contribui estar no banco um treinador amorfo, sisudo, sem garra e que faz substituições ridiculas a um minuto do final. Mas porque será que quando é preciso queimar tempo (Paços de Ferreira, Dragão, etc) não faz uma substituição assim???
P.S: E Katsouranis anda todo roto, nota-se bem!

Maluco do Futebol - http://malucodofutebol.blogspot.com/

S.L.B. disse...

D'Arcy: o problema é que no sistema em que actuamos as subidas dos laterais são importantíssimas, caso contrário ficamos sem ninguém para actuar nas linhas e afunilamos e jogo. O que aconteceu ontem...

O Dínamo não se apresentou assim tão perigoso para o Nélson ter tantas preocupações defensivas, mas é natural que depois da Póvoa não esteja com a confiança em alta para se aventurar muito no ataque. Só que isso acaba por emperrar muito o nosso jogo ofensivo.

Artur Hermenegildo disse...

Neste momento há algumas questões na equipa que não são de fácil resolução

1 - A equipa rende mais em termos atacantes quando actua com um trio de grande mobilidade e velocidade (Simão, Miccoli, Nuno Gomes), servido por um meio campo de três jogadores que troca a bola rapidamente e trabalha para a recuperar. Acontece que este modelo de jogo é difícil de conciliar com o Rui Costa; primeiro porque com ele a transição defesa-ataque se torna mais lenta; depois porque não defende, o que deixa apenas dois jogadores de meio-campo a recuoerar bolas. Se os laterais sobem, a equipa fica vulnerável aos contra-ataques.

2 - Para se jogar com Rui Costa e manter a consistência do meio-campo, é necessário jogar com quatro médios. O que implica jogar só com 2 avançados; como um deles tem de ser o Simão, o ataque fica inevitavelmente curto e sobretudo falho de homens na área.

Mas, por outro lado, é um facto que Rui Costa dá um toque de classe à equipa e faz preciosas assistências para golo.

É um problema compicado de resolver.

D'Arcy disse...

Eu sei que as subidas dos laterais são importantíssimas no Benfica. Mas não andaram a bater no rapaz por atacar muito e defender pouco? Acho que ontem levámos com o Nélson que andaram a reclamar por muito tempo. E a diferença viu-se.

O próprio Miguel não era nenhum portento a defender, tinha era sempre as costas quentes quando subia por causa do trabalho do Geovanni. Coisa que o Nélson, neste momento, não tem: a partir do momento da época em que o Katsouranis começou a ficar nos limites, e deixou de conseguir tapar o flanco eficazmente quando o Nélson sobe, como o fazia no início da época, começaram a chover as críticas à performance defensiva do Nélson. O Nélson 'cobarde' de ontem, com medo de arriscar, é para mim um reflexo dessas mesmas críticas continuadas à forma habitual dele jogar. Querem que eu me preocupe mais em defender? Então é isso que eu vou fazer.

S.L.B. disse...

Artur: o Rui Costa é imprescindível mesmo a meio-gás. Os nossos quatro últimos golos (Belém, Póvoa e ontem) foram todos (!) resultantes de assistências dele. Mas no 4-3-3, com o Karagounis e o Petit, o Rui Costa pode jogar atrás dos três avançados. Caramba, seis jogadores para defender deve ser suficiente, não? Agora, independemente do sistema táctico, temos que ser mais dinâmicos nas alas do que fomos ontem.

D'Arcy: Eu nunca critiquei o Nélson por causa das subidas frequentes. Mas de facto há quem o faça. Só que neste esquema táctica a principal missão dele é... atacar!

antitripa disse...

Vamos lá ver como corre em "Budapeste"......LOL

Margarida disse...

Peço desculpa da colherada política, mas é irresistível: como é que justificas o apoio do Fernando Santos ao Não à despenalização da IVG, de forma tão escandalosa (até as vítimas de violação deviam ser obrigadas a levar a gravidez até ao fim, etc.)? ;) Beijinhos

S.L.B. disse...

Margarida: ele é um "santinho"... :-)