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quinta-feira, setembro 05, 2024

Bruno Lage ou o prego no caixão

Mais logo deverá ser oficialmente anunciado o nome de Bruno Lage como o próximo treinador do Benfica. Armei-me em Zandinga no final de Maio e, infelizmente, quatro meses depois a realidade veio dar-me razão. Mas também convenhamos que não era muito difícil acertar naquele vaticínio. Toda a gente antecipou aquele desfecho logo na altura... menos o presidente do Benfica. Pois, bem, o nome que o Rui Costa escolheu agora foi aquele que na anterior passagem pelo Benfica em 2020, terminou-a com um registo de duas vitórias em 13 jogos(!) e cinco jogos seguidos sem ganhar na Luz, coisa que não acontecia desde ... 1931! Portanto (e muito prazer me daria, lá para Maio, vir aqui fazer o mea culpa e dizer que estava redondamente enganado), esta contratação possivelmente vai representar o triste fim do percurso do Rui Costa como presidente do Benfica, porque ou muito me engano ou teremos mais uma época completamente falhada e que se irá arrastar penosamente até final. E para o ano haverá eleições, onde duvido muito que isto seja perdoado.
 
Não, eu não tenho memória curta. Estarei eternamente agradecido ao Bruno Lage pelo milagre de 2018/19. Como estou eternamente agradecido ao Jorge Jesus pelos três campeonatos que ganhou. Ou ao Rui Vitória pelo tri e pelo tetra. Mas não os quero agora de volta ao Benfica. Tal como não queria o Bruno Lage. Acho que é um erro enorme, por estas razões:
 
1) Porque, se é verdade que aconteceu o tal milagre em 2018/19, aconteceu uma verdadeira hecatombe em 2019/20. Será que toda a gente já se esqueceu disto? É que não são só os registos que referi no parágrafo inicial. É o facto de termos dado cabo de sete pontos de vantagem à 3ª jornada da 2ª volta, em apenas quatro jornadas (três aqui, outros três aqui e dois aqui). É o facto de, quando voltámos da pandemia, termos tido oportunidade de passar novamente para a liderança isolada e não o termos conseguido, porque não ganhámos em casa ao... Tondela!
 
2) Escrevi o seguinte no seu penúltimo jogo pelo Benfica, na derrota em casa contra o Santa Clara: “Claramente a mensagem do Bruno Lage deixou de passar e ele não consegue dar a volta à situação”. OK, o seu percurso depois de sair do Benfica poderia desmentir-me e ter dados provas da indiscutível valia como treinador, mas o que temos? Um 10º lugar pelo Wolverhampton em 2021/22 e o despedimento no início de Outubro da época seguinte, depois de uma vitória em 15 jogos(!) para a Premier League (contabilizando ainda a temporada anterior, claro). Três meses no Botafogo em 2023, em que encontrou a equipa no 1º lugar com 13 pontos de vantagem sobre o 2º classificado, mas só teve cinco vitórias em 16 jogos e deixou-se com a vantagem reduzida para sete pontos (vira a perder o campeonato). Teve assim tanto sucesso nos clubes em que treinou depois de sair do Glorioso para justificar o seu regresso agora ao Benfica...?!
 
3) Porque, da mesma maneira que não se ligou nenhuma ao histórico do Schmidt (foi despedido dos dois clubes em que começou uma terceira época a meio desta), agora também não se está a dar atenção ao facto de que os regressos de treinadores vitoriosos poucas vezes tem resultado na história do Benfica (a tal história do “nunca voltes a um lugar onde foste feliz”...) e temos o Jesus como o último exemplo (o enorme Eriksson foi um caso à parte, mas mesmo a sua saída no final do quinto ano, em 1991/92, era inevitável e não foi muito chorada na altura).
 
Não, infelizmente, não espero nada bom desta contratação. Obviamente que não tenho nada contra o Bruno Lage enquanto pessoa (antes pelo contrário), mas ainda não ultrapassei o trauma da parte final da sua passagem pelo Benfica. E acho que ele não deu provas nenhumas posteriores que me levem a superar isso.
 
Por outro lado, em relação ao Rui Costa, tenho de dizer que é um dos dois únicos jogadores do Benfica dos quais tenho uma camisola personalizada (o outro é o grande Nuno Gomes), adquirida aquando do seu regresso ao Benfica. Admirava-o profundamente enquanto jogador e essa admiração será sempre imutável. Mas o seu percurso enquanto presidente está a deixar muito a desejar e em queda vertiginosa de popularidade. O final do seu mandato tem uma grande probabilidade de ser muito agonizante.
 
P.S. – Em relação a treinadores, eu teria optado de caras pelo Leonardo Jardim, que está livre, já foi campeão em três países e ganhou uma competição continental. Quanto a quem achava que o inenarrável Sérgio Conceição seria (sequer) um nome a considerar, deixo-vos uma sugestão: vão estudar a história do clube, para perceberem o que é o ser do Benfica! Caso, mesmo assim, achem que era uma hipótese... eh pá, mudem de clube, porque vocês claramente não percebem NADA sobre os valores que se devem ter para representar o Benfica!

* Publicado em simultâneo com a Tertúlia Benfiquista.

segunda-feira, setembro 02, 2024

Fim de linha

Empatámos na passada 6ª feira em Moreira de Cónegos (1-1), no último jogo de Roger Schmidt enquanto treinador do Benfica. Com a vitória da lagartada frente ao CRAC (2-0) no sábado, estamos agora a cinco pontos do 1º lugar, com apenas quatro jornadas decorridas. Não era fácil um pior início de temporada, mas nada que não fosse já antecipável na malfadada hora em que o Rui Costa decidiu manter o Roger Schmidt no banco do Benfica. Claro que, depois destas quatro jornadas, dos resultados e do futebol(?) apresentado, o alemão jamais poderia resistir e foi despedido no sábado. Perdeu-se demasiado tempo e provavelmente outro campeonato.

Sobre a saída do treinador e a contratação de um novo, haverá um texto à parte, mas em relação a este jogo também não há muito para dizer de diferente ao que já foi dito e redito no passado: exibição paupérrima do Benfica, a revelar os mesmos defeitos de há séculos (afunilamento do jogo, ausência de acelerações, menor agressividade que o adversário, poucas oportunidades de golo), o que obviamente não é de espantar, dado que o treinador é (era) o mesmo. O Di María entrou no onze e foram dele as melhores jogadas na 1ª parte, mas mesmo assim sem uma clara situação de golo. Quanto ao Moreirense, marcou na nossa baliza, mas o golo foi posteriormente anulado pelo VAR por pisão sobre o Leandro Barreiro no início da jogada.

Na 2ª parte, entrou logo o Renato Sanches, que esteve uns bons furos acima de frente ao E. Amadora, mas continuámos a não conseguir produzir grande jogo ofensivo. O Pavlidis teve um bom remate defendido pelo guarda-redes Kewin, o Di María viu um defesa a safar quase sobre a linha, porém foi o Moreirense a abrir o marcador aos 84’ pelo Ofori, num remate que desviou no António Silva e traiu o Trubin. Tínhamos permitido menos veleidades atacantes ao Moreirense do que no primeiro tempo, pelo que este golo foi um castigo um pouco pesado, mas resultou de um erro clamoroso do Carreras na saída de bola no nosso meio-campo. No último minuto da compensação, o Leandro Barrreiro é pisado na grande-área, num lance em que o Moreirense protestou sobre uma eventual mão na bola do Marcos Leonardo, e o mesmo Marcos Leonardo empatou o jogo, mas já era impossível resgatar a vitória.

Destaque individuais é escusado fazer, mas deixo só esta nota de completo desnorte do Benfica actual: quem marcou o penalty na compensação foi um jogador, cuja saída para a Arábia estava iminente, e que se confirmou no dia seguinte. Jogador, esse, que já tinha falhado um penalty decisivo na meia-final da Taça da Liga no ano passado. Por acaso, foi golo, mas foi nitidamente brincar com o fogo.

Foi um fim de linha muito triste para o Roger Schmidt, mas o que me preocupa mais foi esta incapacidade de ver o óbvio que o Rui Costa revelou. Resta-nos aguardar pelo nome do novo treinador e esperar que consiga ainda fazer alguma coisa desta temporada. Mas não tenho esperanças nenhumas nisso, especialmente se for o nome mais forte de que se fala...