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segunda-feira, janeiro 07, 2019

Reviravolta

Vencemos o Rio Ave na Luz por 4-2 na estreia do Bruno Lage à frente da equipa técnica. Quando aos 20’ nos encontrávamos perder por 0-2, o mundo parecia que ia desabar sob a nossa cabeça, mas uma reacção de carácter da equipa permitiu-nos uma reviravolta que já não acontecia na nossa casa há 17 anos (3-2 ao Varzim em 2001/02).

O Bruno Lage surpreendeu toda a gente ao voltar ao 4-4-2. Disse na conferência de imprensa no final que foi por feeling, depois do que viu na 2ª parte em Portimão e porque temos muitos avançados no plantel. A palavra “felling” está um pouco queimada para mim nos próximos tempos, mas adaptar o sistema aos jogadores e não o inverso parece-me um excelente princípio. O facto é que fomos campeões quatro anos seguidos sempre a jogar com dois avançados e, na maioria dos jogos no campeonato português, ainda para mais na Luz, não tem lógica jogar só com um avançado na frente. No entanto, temos graves problemas no processo defensivo e isso é o que tem que ser corrigido mais rapidamente. Nas duas primeiras vezes que foi à nossa área, o Rio Ave marcou com dois golos (17’ e 20’), através do Gabrielzinho e Bruno Moreira, com uma facilidade inacreditável. Aliás, convém referir que os vilacondenses, que também estrearam o Daniel Ramos como treinador, não vieram defender o resultado, antes pelo contrário, alinhando com dois pontas-de-lança, um dos quais, o Carlos Vinicius, está emprestado pelo Nápoles e deu trabalho de sobra aos centrais. A nossa reacção aos golos foi excelente e os avançados Seferovic e João Félix estiveram em destaque, com este a deixar passar a bola depois de um centro rasteiro do Grimaldo aos 27’ e o suíço com um trabalho excelente (calcanhar a bater o defesa e bola por entre as pernas do guarda-redes) a reduzir a desvantagem. O estádio empolgou-se e ainda mais ficou com o empate aos 31’: jogada de insistência do Seferovic pela direita, centro atrasado, o João Félix a antecipar-se brilhantemente a dois defesas, a dominar a bola o que fez com que o guarda-redes Leo Jardim caísse e a rematar de um modo fulminante. Estava feito o empate ainda antes do intervalo.

A 2ª parte deveria ter começado com o golo do ano, possivelmente da década: aos 48’, o Grimaldo passou por cinco(!) jogadores do Rio Aves e atirou ao poste na saída do guarda-redes! Se querem melhor prova de que Deus não existe, está aqui! O jogo estava muito repartido e a nossa defesa continuava a permitir ao Rio Ave criar ocasiões de perigo. O que os valeu foi que a pontaria esteve bastante desafinada, porque por três(!) ocasiões poderíamos ter sofrido o terceiro golo. O Galeano, emprestado pelo CRAC, fez a cabeça do André Almeida em água e num destes lances o seu remate saiu fraco, depois de uma brilhante jogada. O Zivkovic entrou para o lugar do Cervi aos 61’ e foi dele aos 64’ o centro rasteiro que assistiu o João Félix para o 3-2. Excelente desvio no primeiro bis do miúdo pela equipa principal e reviravolta consumada. Como o jogo estava, era essencial fazermos mais um golo, até porque em termos defensivos as coisas não estavam nada seguras. E esse golo aconteceu aos 70’ através de um contra-ataque! Aleluia! Três anos e meio depois voltámos a fazer contra-ataques! O Seferovic iniciou a jogada, deu para o Pizzi, que conduziu a bola, aproveitou a movimentação do suíço para o desmarcar brilhantemente, o Seferovic enquadrou-se muito bem com a baliza e fez o 4-2. Pouco depois, mais outro sinal do Bruno Lage na substituição do João Félix: em vez de um médio para segurar o jogo, colocou o Ferreyra, que assim regressou à equipa mais de dois meses depois. O argentino esforçou-se, ainda tentou, mas não conseguiu ter nenhum lance para rematar à baliza. Até final, o Rúben Dias de cabeça num livre deveria ter feito melhor, porque estava em excelente posição para marcar, e o Carlos Vinicius viu o Jardel impedi-lo de desfeitear o Vlachodimos.

Em termos individuais, o melhor em campo foi o Seferovic: dois golos, uma assistência e uma enorme capacidade de luta. O João Félix teve igualmente um jogo para mais tarde recordar, com dois golos muito importantes. Houve muito querer, mas também a evidência de que há muito trabalho pela frente, especialmente no aspecto defensivo. Não podemos deixar o adversário rematar com tanta facilidade, porque se a eficácia for melhor do que a do Rio Ave teremos graves problemas.

Já o disse e volto a repetir: eu manteria o Bruno Lage até final da época e aí faria uma reavaliação. Gostei do que vi (excepto na defesa), gostei do discurso final e não esqueçamos que só houve dois treinos. Não vejo nenhum treinador para a nossa capacidade financeira disponível no momento e, para entrar a meio da época, acho preferível alguém que já esteja lá dentro. Veremos que luzes vão acontecer na cabeça do nosso presidente.

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