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segunda-feira, novembro 06, 2006

Rolo-compressor

Uma segunda parte como há muito não se via permitiu-nos ganhar pela segunda vez em quatro dias por 3-0, desta feita ao Beira-Mar. Foi das melhores exibições do Benfica nesta época e, se chegámos ao intervalo sem conseguir marcar golos, isso foi culpa exclusiva do Alê, o guarda-redes adversário. A malapata do Beira-Mar (duas vitórias em dois jogos para o campeonato na Nova Catedral) parecia querer continuar, mas felizmente os golos surgiram no segundo tempo e mais uma vez acabámos o jogo com água na boca, já que merecíamos ter ganho por mais (olha que luxo!).

Com a lesão do Léo, a entrada do Miguelito foi a única alteração na equipa que defrontou o Celtic. Desde o início percebeu-se que o Beira-Mar vinha à Luz jogar para o 0-0. Foram inoperantes durante os 90’ e a prova disso é a nossa posse de bola ter chegado aos 70% (!) na primeira parte, e 65% na segunda. Com o autocarro estacionado em frente à baliza, pareceu-me inútil jogar todo o primeiro tempo com quatro defesas e dois trincos (se bem que o Katsouranis fizesse a posição de interior-direito do losango, eu sei). Não entrámos tão rápido como nos jogos anteriores, mas tivemos ocasiões para chegar ao intervalo com o jogo ganho. O Luisão teve inúmeras oportunidades para criar desequilíbrios no ataque, já que progredia com a bola e não tinha ninguém para marcar, mas incompreensivelmente chegava ao meio-campo e passava-a a um colega. Com o Karyaka, Karagounis e Paulo Jorge no banco, adivinhavam-se alterações para a segunda parte, até porque o Petit continuava a exibir o seu abaixamento de forma e o Katsouranis, por muito que tente, não é tão incisivo no ataque como qualquer daqueles três jogadores.


No entanto, ao contrário do esperado até porque o Karyaka esteve a aquecer ao intervalo, voltámos com a mesma equipa para o segundo tempo. E, a posteriori, pode dizer-se que ainda bem! Numa daquelas situações que tornam o futebol um desporto imprevisível e que nos apaixona a todos, foram os dois trincos a marcar dois golos em três minutos (52’ e 55’) que dissiparam as dúvidas sobre quem ia vencer a partida. O primeiro golo, marcado pelo Katsouranis de cabeça, resultou da quarta (!) assistência do Nélson em três jogos, e o segundo foi na sequência de um dos nossos inúmeros carrosséis atacantes que permitiu ao Petit entrar na área e rematar cruzado para o lado contrário do guarda-redes. Foi o jogador que deveria ter saído ao intervalo (parece que esteve em dúvida para o jogo por inferioridade física) a marcar o golo que nos deu a tranquilidade. Assim pôde sair calmamente cinco minutos depois (entrou o Karagounis) e receber uma enorme ovação do público. A partir daqui, com o jogo ganho e vindo de um desafio europeu, poder-se-ia pensar que tínhamos fechado a loja. Nada mais errado! Continuámos, ainda com mais veemência, a ser um autêntico rolo-compressor, que esmagou completamente o Beira-Mar e o empurrou para a sua baliza. Da forma como corríamos, parecia que o resultado ainda era 0-0! Foi isto que mais gostei no jogo. As oportunidades sucederam-se (o Miccoli rematou seis vezes e o Nuno Gomes quatro), mas acabou por ser um jogador dos aveirenses a marcar o terceiro golo aos 75’. Foi na sequência de um canto depois de uma finta incrível do Miccoli junto à linha lateral (rodopiou sobre si próprio com a bola colada ao pé e o defesa ainda agora deve estar para saber o que aconteceu), em que a bola é colocada no Luisão que, isolado na área e descaído sobre a direita, fez um passe para o meio e o defesa antecipou-se ao italiano. Esperava-se mais golos até final, mas a pontaria não se manteve afinada (o Karyaka desta vez ficou em branco… :-).

A equipa esteve toda bem, tanto a defender como a atacar. O Beira-Mar só criou dois lances de verdadeiro perigo: num contra-ataque no final da primeira parte e num livre já com 2-0, em que o Quim fez uma grande defesa. Julgo que tivemos muito mérito nisto, já que não os deixávamos respirar quando tinham a bola. Mesmo assim a nível individual destacaram-se o Simão (cada vez mais à vontade no seu papel de “10” que deambula sobre toda a frente de ataque), os dois avançados (que mesmo não tendo marcado golos apesar dos imensos remates, foram muito importantes nos espaços que criaram para os médios) e o Nélson (que continua na sua senda de assistente). O Nuno Assis fez uma primeira parte fraca, mas na segunda esteve muito bem e revela um pulmão impressionante (corria sempre atrás dos aveirenses mesmo com 3-0). O Katsouranis lá facturou mais um e é dos melhores marcadores do Benfica. Os centrais tiveram regulares e o Miguelito libertou-se mais na segunda parte. Confirma-se como um bom substituto do Léo. Os substitutos (Karagounis, Karyaka e Mantorras) inseriram-se bem na dinâmica da equipa, mas o angolano falhou um golo feito já em tempo de descontos.

O campeonato vai parar outra vez por causa da selecção (que seca!), mas na próxima jornada vamos a Braga. É uma deslocação muito complicada, mas se mantivermos este nível de jogo será muito difícil não sermos bem sucedidos. As primeiras partidas da época assustaram qualquer benfiquista que se preze e vamos ver se este nível exibicional, e de resultados, é para continuar, mas há que fazer justiça ao Fernando Santos. Não se trata de passar de besta a bestial, mas há quanto tempo não manifestávamos nós o killer instinct que faz com que se procure sempre marcar mais golos mesmo com o resultado favorável? Qualquer semelhança com o tempo do Trapattoni em que marcávamos um golito e depois era tudo a defender para não sofrer nenhum é pura coincidência (conte-se os jogos em que ganhámos por mais de um golo de diferença). Claro que este plantel é infinitamente superior ao de há dois anos, mas acho que nesta atitude se nota o dedo do actual treinador. O futebol está a ser m
ais agradável agora, mas esperemos é que o resultado final seja semelhante…

P.S. - Um dos momentos do jogo foi o segundo amarelo ao Buba. Foi a primeira vez que vi o estádio da Luz a bater palmas e gritar o nome de um jogador adversário. Não só marca três golos aos lagartos, como ainda se faz expulsar contra nós! Para o ano deve estar contratado… :-)

P.S. 2 – Para além de ter sido a primeira vitória frente ao Beira-Mar para o campeonato na Nova Catedral, este jogo também me permitiu conhecer pessoalmente mais uma grande benfiquista. Igualmente por isso fica na história.

8 comentários:

D'Arcy disse...
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D'Arcy disse...

O Nélson vai em 6 assistências em 5 jogos: Leiria (para o golo do Nuno Gomes), Amadora (penalty sobre ele que deu o segundo golo), Porto (para o golo do Nuno Gomes), Celtic (autogolo do Caldwell e golo do Karyaka) e Beira Mar (golo do Katsouranis). Pelo meio houve o jogo em Glasgow, em que ele ficou 'em branco' (porque simplesmente não jogou, dado que os escoceses 'são muito fortes no jogo aéreo) :)

Neste momento anda-me a saber muito bem ver o Benfica jogar 'à Benfica'. É mesmo seca vir a selecção interromper isto.

tma disse...

Penso que está tudo dito: o Benfica está a jogar um futebol de ataque perto do espectacular, uma grande dinâmica que no seu auge (considerando que impossível manter o mesmo ritmo durante os 90 mins, pelo que é sempre necessário dosear o esforço) comprova que "a melhor defesa é o ataque", pois o Benfica, ao contrário de anos anteriores, praticamente não dá espaço ao adversário para desenvolver o seu jogo.
Gostei muito que o Petit tivesse marcado ontem, sobretudo depois da discussão sobre o seu lugar na equipa caso o Karagounis recupere a titularidade (para não falar do Rui Costa). Para além de ter sido um excelente golo, a sensação que dá é que mesmo sendo ele o único trinco neste esquema táctico, o Petit até está mais solto ofensivamente (e curiosamente, até era o Katsouranis, que supostamente "cobre" as subidas do Petit, que estava ao seu lado também pronto para rematar).

Daqui a duas semanas vamos ter um verdadeiro teste à capacidade do Benfica. Uma vitória em Braga é daquelas vitórias que dão campeonatos... Pena é termos de esperar 2 semanas... Espero é que esta pausa não afecte o ritmo da equipa, assim como espero que não haja lesões...

GR1904 disse...

As paragens do campeonato ocorrem sempre ou quase sempre que o Benfica está a trilhar pelo melhor caminho.

Sempre tive esperança que o F.Santos conseguisse impôr o seu estilo, daí que tenha achado infundadas e injustas as criticas que mandaram para cima dele há algum tempo atrás. E reparem que falta ali um senhor jogador que, quando estiver pronto para entrar na equipa, vai ser a maior dor de cabeça dos ultimos anos, pois o Benfica agora está a jogar muito bem e qq alteração pode alterar a dinâmica de jogo. Falo, claro está, do Rui Costa. Mas com ele pronto a entrar, julgo que só poderemos melhorar mais.

Isto td não é por acaso, o Benfica tem vindo a jogar bem desde Leiria. São já vários jogos a um nível muito idêntico. E com a atitude própria do Benfica de antigamente, ou seja, dono e senhor do jogo e mesmo a ganhar não se retrai e procura sempre mais um golo. Dá gosto ver este Benfica. Não é como o ano passado que tinhamos um fio de jogo calculista, dando a iniciativa de jogo ao adversário e, muito de vez em qd, lá aparecia uma exibição muito boa.

Um pormenor de comparação em relação ao ano passado, em termos de pontuação: estamos com mais pontos no campeonato e com os mesmos pontos na champions (e aqui a grd diferença é que o man utd está mt melhor classificado).

Telescópio disse...

Bem, tenho que dar a mão à palmatória: tinhas razão, o problema do Benfica estava muito mais no lateral direito do que no ponta de lança. Abraço.

tma disse...

Telescópio: "(...)o problema do Benfica estava muito mais no lateral direito(...)"
E continua a estar... Sem o Nélson, não temos ninguém para o substituir naquilo que ele faz melhor. O Alcides pode ocupar a posição, mas ocupar é mesmo o termo, pq de resto, não podemos esperar mais dele. É mesmo o único sector onde não há um substituto à altura.

Magnolia disse...

Quando é para fazer História, conta comigo...
;)

antitripa disse...

Bem.....a área do beira mar parecia bagdad...